Enquanto desmontava os instrumentos da banda ontem (sim, eu faço parte de uma banda que toca na igreja para quem ainda duvida) um dos amigos e violonista viu o livro que eu levava comigo. Tratava-se da revista "Ospália" do núcleo de pesquisa teatral no campo da palhaçaria de Itajaí, do meu amigo Charles Augusto, o palhaço Pacacoenco. Ao ver o livro ele simplesmente comentou: "Pelo visto não tem volta mesmo".
Aquilo me chamou a atenção. Passei um ano inteiro num curso de clown com o mestre James Beck, da Cia Carona, em Blumenau, o palhaço Claus. Ainda não tinha muita certeza se seguiria mesmo esse caminho do palhaço, mas as palavras do meu amigo Richard bateram forte. Optei por esse caminho e parece não ter mais volta mesmo. Pois como todos os autores da revista Ospália descobriram, o palhaço faz parte de nós. É como na história da Jô Fornari, descrita na revista e que peço licença para reproduzir a vocês:
"Há um ano, dei de presente para minha sobrinha Yasmim, de 6 anos, um nariz vermelho. Ela adorou e fez várias performances com ele, brincou de palhaça muda, distribuiu presentes para seu público - os familiares - e até ganhou um nome: palhaça Bolinha. Parecia que sabia mais do que eu o que fazer com aquela máscara que acabara de ganhar.
Um ano depois, dei de presente a ela adereços para a palhaça Bolinha: maquiagem, figurino, brinquedos. E ela se maquiou e maquiou todos e brincou e deixou de brincar, enfim, entrou e saiu do jogo e do estado com a naturalidade que toda criança tem.
Num determinado momento, eu, confusa, sem saber a quem me dirigia, chamei-a de palhaça Bolinha, ao que ela retrucou:
- Não, agora não é a palhaça Bolinha, agora sou a Yasmim.
E eu, querendo provocá-la, perguntei:
- Mas quem é você, afinal...
E ela, sem pestanejar, me olhou com toda seriedade e segurança e respondeu:
- As duas!"
Outro fator que não posso esquecer de comentar e que foi até engraçado, tanto quanto inusitado, foi a bênção ao meu nariz de palhaço. Depois da missa e novena de Nossa Senhora de Fátima, a qual tocamos em Jaraguá do Sul, cheguei para o padre Tito e disparei:
- O senhor pode abençoar um objeto que eu esqueci de trazer para a missa, mas estava no carro...
- Posso sim, sem dúvida.
Quando tirei o nariz do bolso ele me questionou o que era aquilo. Mediante a resposta de se tratar de um nariz de palhaço ele me olhou sério e achou que eu estava brincando. Perguntou para que eu usava aquilo. Eu poderia vir aqui e dizer a todos que eu teria respondido algo fantástico como "levar a alegria aos outros", mas seria uma enorme mentira. Eu simplesmente falei que usava para o meu trabalho de palhaçaria, que agora eu era um palhaço (ao menos tento ser) aqui em Rio Negrinho.
Um tanto surpreso ele disse que era a primeira vez que abençoava um nariz de palhaço. Não lembro ao certo as palavras usadas por ele, mas com certeza envolvia algo em torno disso: - Pedimos a bênção senhor, para este instrumento de trabalho, para que ele possa sempre levar alegria àqueles que já perderam a esperança e estão desiludidos.
Agradeci com um abraço e guardei-o no bolso (o nariz, não o padre). Mas fico imaginando a enorme responsabilidade que agora tenho para com este meu "instrumento de trabalho". Não apenas pela bênção em si, mas até então tinha o nariz como uma forma de fazer os outros rirem simplesmente, agora tenho a responsabilidade de levar alegria a quem já perdeu a esperança ou está desiludido. A cada dia que passa, sinto que isso aumenta ainda mais em mim e o meu Clownpilé ganha força.
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