segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Não tem mais volta mesmo

Enquanto desmontava os instrumentos da banda ontem (sim, eu faço parte de uma banda que toca na igreja para quem ainda duvida) um dos amigos e violonista viu o livro que eu levava comigo. Tratava-se da revista "Ospália" do núcleo de pesquisa teatral no campo da palhaçaria de Itajaí, do meu amigo Charles Augusto, o palhaço Pacacoenco. Ao ver o livro ele simplesmente comentou: "Pelo visto não tem volta mesmo".
Aquilo me chamou a atenção. Passei um ano inteiro num curso de clown com o mestre James Beck, da Cia Carona, em Blumenau, o palhaço Claus. Ainda não tinha muita certeza se seguiria mesmo esse caminho do palhaço, mas as palavras do meu amigo Richard bateram forte. Optei por esse caminho e parece não ter mais volta mesmo. Pois como todos os autores da revista Ospália descobriram, o palhaço faz parte de nós. É como na história da Jô Fornari, descrita na revista e que peço licença para reproduzir a vocês:

"Há um ano, dei de presente para minha sobrinha Yasmim, de 6 anos, um nariz vermelho. Ela adorou e fez várias performances com ele, brincou de palhaça muda, distribuiu presentes para seu público - os familiares - e até ganhou um nome: palhaça Bolinha. Parecia que sabia mais do que eu o que fazer com aquela máscara que acabara de ganhar.
Um ano depois, dei de presente a ela adereços para a palhaça Bolinha: maquiagem, figurino, brinquedos. E ela se maquiou e maquiou todos e brincou e deixou de brincar, enfim, entrou e saiu do jogo e do estado com a naturalidade que toda criança tem.
Num determinado momento, eu, confusa, sem saber a quem me dirigia, chamei-a de palhaça Bolinha, ao que ela retrucou:
- Não, agora não é a palhaça Bolinha, agora sou a Yasmim.
E eu, querendo provocá-la, perguntei:
- Mas quem é você, afinal...
E ela, sem pestanejar, me olhou com toda seriedade e segurança e respondeu:
- As duas!"

Outro fator que não posso esquecer de comentar e que foi até engraçado, tanto quanto inusitado, foi a bênção ao meu nariz de palhaço. Depois da missa e novena de Nossa Senhora de Fátima, a qual tocamos em Jaraguá do Sul, cheguei para o padre Tito e disparei:
- O senhor pode abençoar um objeto que eu esqueci de trazer para a missa, mas estava no carro...
- Posso sim, sem dúvida.
Quando tirei o nariz do bolso ele me questionou o que era aquilo. Mediante a resposta de se tratar de um nariz de palhaço ele me olhou sério e achou que eu estava brincando. Perguntou para que eu usava aquilo. Eu poderia vir aqui e dizer a todos que eu teria respondido algo fantástico como "levar a alegria aos outros", mas seria uma enorme mentira. Eu simplesmente falei que usava para o meu trabalho de palhaçaria, que agora eu era um palhaço (ao menos tento ser) aqui em Rio Negrinho.
Um tanto surpreso ele disse que era a primeira vez que abençoava um nariz de palhaço. Não lembro ao certo as palavras usadas por ele, mas com certeza envolvia algo em torno disso: - Pedimos a bênção senhor, para este instrumento de trabalho, para que ele possa sempre levar alegria àqueles que já perderam a esperança e estão desiludidos.
Agradeci com um abraço e guardei-o no bolso (o nariz, não o padre). Mas fico imaginando a enorme responsabilidade que agora tenho para com este meu "instrumento de trabalho". Não apenas pela bênção em si, mas até então tinha o nariz como uma forma de fazer os outros rirem simplesmente, agora tenho a responsabilidade de levar alegria a quem já perdeu a esperança ou está desiludido. A cada dia que passa, sinto que isso aumenta ainda mais em mim e o meu Clownpilé ganha força.

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